Queridos colegas
Parece que isto está mesmo a aquecer.
Parece que isto está mesmo a aquecer.
Foi-nos enviado o texto que a seguir transcrevemos, em resposta às belas palavras que relatam um amor de outros tempos.
Queremos aqui fazer um esclarecimento: em relação aos dois primeiros intervenientes, nada sabemos, continuamos na mais completa ignorãncia; já em relação às palavras de hoje...qualquer coisa nos diz que sabemos quem é. No entant, e por respeito à privacidade de cada um, aguardaremos que se identifiquem, voluntariamente. :) Malandreco...deste demasiadas pistas, e procuraste "despistar" mas conseguiste o efeito contrário.
Queremos aqui fazer um esclarecimento: em relação aos dois primeiros intervenientes, nada sabemos, continuamos na mais completa ignorãncia; já em relação às palavras de hoje...qualquer coisa nos diz que sabemos quem é. No entant, e por respeito à privacidade de cada um, aguardaremos que se identifiquem, voluntariamente. :) Malandreco...deste demasiadas pistas, e procuraste "despistar" mas conseguiste o efeito contrário.
Abraços da
Comissão Organizadora
"É sempre bom voltarmos aos lugares onde passámos a nossa meninice. É bem verdade que o tempo tudo muda e, a cada vez que voltamos, menos daquilo que nos era familiar, encontramos. Os velhos amigos partem, também - alguns para sempre – e, no lugar dos velhos prédios, novos vão sendo construídos, tornando cada vez mais difícil esse exercício, quase sempre agradável, de reconstruir o passado a partir das memórias que guardámos.Passei a meninice em Ansião e boa parte da minha juventude. Por isso, sempre que posso aqui volto. Este fim de semana, mais uma vez, cumpri com essa tarefa e visitei alguns familiares afastados que por cá moram e, foram eles que me informaram que no antigo Melado houvera um almoço de confraternização dos antigos alunos do Externato António Soares Barbosa, onde estudei do primeiro ao quinto ano dos liceus, como se dizia na época. Uma mão amiga com eles deixou também o endereço electrónico deste blog. Eufórico, procurei um computador com internet, cioso de rever velhos companheiros; achei-o no Centro Cultural, e aqui deixo meus cumprimentos ao Dr. Fernando Ribeiro, velho amigo, pela magnífica iniciativa de prover os ansianenses com um espaço desta categoria, dedicado à difusão cultural. Perdoem-me, velhos amigos,este preâmbulo e a demora em entrar no assunto que me leva a escrever estas linhas. Mas, a verdade é que, aquilo que eu imaginava que seriam momentos da mais genuína e pura alegria, não demorou a transformar-se em mais um sombrio e doloroso pesadelo. Pesadelo recorrente durante tantos anos da minha vida, do qual me julgava finalmente liberto e que, de repente, como nocturno salteador invade, de novo, a minha vida. Daí, a minha dificuldade em entrar directamente no assunto. Peço-vos perdão, mais uma vez, mas é-me imperioso que assim faça para ver se exorcizo, duma vez por todas – espero - estes velhos fantasmas que me apoquentam.Comecei por olhar as fotos e deliciei-me no rever de tantos rostos tão familiares; quando uma suave onda de nostálgica alegria adolescente começava a me invadir, eis que chego àquela confissão de amor, que para alguns será uma bela história de amor, mas que, para mim, infelizmente, mais pareceuma vulgar gabolice de um Don Juan de meia tijela. Não consigo entender os motivos que levaram este meu antigo colega a escrever o que escreveu, a não ser algo muito próximo daquilo que atrás refiro. E, vós que me lêdes, prestai atenção: Eu conheço bem os envolvidos nesta história. Fui seu colega durante cinco longos anos, escondendo, a custo, o grande amor que essa garota me inspirava, também, escondendo-o de todos e até de mim próprio, uma vez que, dotado de parcos atributos físicos, percebi desde muito cedo que a minha amada só tinha olhos para aquele galã de botas grosseiras e calças de surrobeco. Já a mim, nem me via, a não ser na hora de hora de copiar algum exercício de matemática, porque, ao menos como aluno, sempre fui muito melhor do que o meu concorrente sentimental. Lembro-me bem daquela fatídica tarde em que, segundo ele, se beijaram pela primeira vez. Eu e ele éramos amigos inseparáveis. Via com grande pesar os olhares cada vez mais apaixonados que um ao outro dirigiam. Eles nem me notavam. Um ciúme incontrolável tomava conta de mim. Via como eles procuravam alguns momentos a sós para se falarem. Terminada aula de francês, deixei, como por acaso, um caderno na sala e fui saindo, um pouco à frente deles. No ginásio, voltei para pegar o caderno. Sem fazer barulho, aproximei-me da porta e espreitei. Vi-os a se beijarem. Dei meia volta e saí correndo, tentando esconder as lágrimas. Atravessei o corredor sem ver nada e continuei a correr em direcção à casa de banho, no fim do pátio do recreio. Ouvi que alguém me chamou. Respondi apenas: Eh! pá, estou apertado. E só quando me tranquei numa das casinhas e me sentei na sanita pude, finalmente, dar vazão ao meu desespero e à minha frustração, sem medo de ser descoberto e de ter de pôr a nu os meus secretos sentimentos, verdadeiro motivo daquele meu rompante. Lá me deixei ficar, mesmo depois de ouvir a campaínha tocar dando por terminado o breve recreio. Não compareci à aula de estudo. O senhor Alberto, sempre atento, acabou por me achar. Perguntou-me o que estava a acontecer. Disse-lhe que estava com dor de barriga. Quis saber o que eu comera ao almoço. Disse-lhe e ele lá se convenceu e, acabou por me mandar para casa. Eu fui; mas a maior parte da tarde passei-a escondido na mata, em luta com toda a espécie de sentimentos contraditórios que em mim se degladiavam. Lutava desesperadamnete para apagar aquela cena do beijo da minha memória. Inutilmente. Perseguiu-me durante anos. Afastei-me de Ansião. Sempre me achei feio e desajeitado com as mulheres. Cheguei a ter dúvidas sobre a minha masculinidade. Procurei, no amor pago, minorar o meu sofrimento. Quando a SIDA chegou, resolvi casar, já passado dos trinta anos. Nunca amei a minha mulher. Fiquei casado apenas nove meses. Agora, quando tudo já não passava de uma lembrança quase apagada... Isto!!!E, o que é pior, ela ainda gosta dele! Continua de quatro por um homem que, apesar de se saber correspondido, não teve coragem para fazer triunfar esse amor. Isso é o que mais me dói!Não sei se algum dia terei coragem para participar dos vossos encontros, uma vez que já dei tantas referências a meu respeito que acho que todos já sabem quem eu sou. E é triste termos que enfrentar os nossos fracassos.Peço que não me levem a mal este desabafo. Vão dizer que o fiz só por despeito. Talvez eu não vos tenha feito compreender como esse doloroso acontecimento influiu negativamente em toda a minha vida. Talvez os coordenadores da página apaguem este meu comentário. Não faz mal. Continuarei a amar, em silêncio, a única paixão da minha vida.
PS: Patrício:Acho que tu não sabes quem é o gajo. Acho que ele nunca foi da tua turma, mas enfim... "
Nota da Administração do blog: para quem visita pela primeira vez este espaço, aconselha-se a leitura atenta do histórico. O TEU nome pode andar por aí, nos mais recônditos comentários...
6 comentários:
Eu sei quem é o "gajo",,,nunca foi da minha turma...nunca foi da minha turma...
Voltarei.
Patrício.
Ah !... Digo mais... gostava de o voltar a encontrar...e de lhe dar um abraço...
Estou em Tomar...Aparece !...
Patrício
Patrício, isto assim não vale! Tu sabes quem é o "gajo" e não partilhas connosco??? Ai,ai! Chiba-te aí, conta aqui ao ouvido que eu prometo não contar nada a ninguém.
Patrício:
Afinal o convite é para mim ou para o "outro"?
Resposta à Nídia.
O convite é para os dois...
...encontra-nos-emos em breve.
Um abraço.
Patrício
CAROS COLEGAS:
Ao quebrar os meus votos de silêncio, faço-o convicto de que poderei parecer, a alguns fastidioso até aborrecido, a outros gabarola e exibicionista, aos restantes, dos quais vislumbro já pela certa um sorriso de concordância com o meu regresso, oportuno, pois o mesmo era exigido, confrontado que fui com a amarga lembrança que outros terão daqueles longínquos cinco anos.
Ciente de que na vida tudo terá uma explicação, que a uns convencerá e a outros não, não descuro a responsabilidade que todos temos, de manter unida esta grande família dos antigos alunos do Externato, nem tão pouco permitirei que alguém queira ler algo de ofensivo, onde não está, ou que entenda, no que eu escrever, algum ataque pessoal a quem quer que seja.
Tomo assim a ousadia de vos pedir que me leiam e, se vos decepcionar, que me perdoem. Afinal também eu necessito de expugnar os fantasmas do meu passado, pacificar as agressões das minhas intermináveis insónias, humanizar as minhas emoções que revoltas se encontram ainda por um passado tão contrário.
O meu agradecimento aos que comigo conseguirem partilhar esse exercício!
AO AMIGO INSEPARÁVEL:
Efectivamente não teriam sido necessárias tantas referências para que eu iniciasse uma retrospectiva do que foi a nossa sã convivência – pelo menos para mim – do primeiro ao quinto ano do Colégio. A partilha, nos primeiro anos, do receio das agressões dos mais velhos, os jogos do recreio, nomeadamente o do prego que tu sempre ganhavas, a bola de futebol que adquirimos a meias e que religiosamente guardávamos para aquelas tardadas no campo da Mata, as pastilhas Pirata que comprávamos com os tostões de ambos no Carlos Antunes, o cigarro, não o maço, que comprávamos no Zé Henriques e fumávamos a dois, tudo isso nos tornou realmente inseparáveis.
Mas, não me penalizes agora pela minha incapacidade para certas áreas da Matemática, eu achava que me deixavas copiar os teus exercícios, mal chegava a carrinha, por seres meu amigo e que jamais irias tirar vantagem desse facto, contudo acho justo que se diga que foste um aluno brilhante que passou pelo Colégio.
Eu sempre te considerei meu confidente, sempre soubeste como e quando começou a despontar aquele amor por ELA, por que não falaste então? É certo que não somos nós a escolher o alvo das nossas paixões, elas acontecem, mas poderíamos ter discutido o assunto, talvez este se tivesse diluído. Aliás tudo levava a crer, pelo que me dizias, que estavas interessado na amiga dela, aquela do cabelo preto comprido que vinha na carrinha, lembras-te?
Dizes que te afastaste de Ansião, assim percebo porque não nos voltámos a encontrar, embora eu tenha ficado, grande parte da minha vida, por cá. Não sabia que tinhas familiares em Ansião, quando te procurei na tua aldeia já os teus pais tinham falecido e ninguém me soube dar outras informações além de que estarias fora da região.
Não entendo, não cabe na imagem que tenho de ti, que me culpabilizes pela correspondência de sentimentos que existia entre mim e ELA, achando que te fiz mal.
Se assim é porque não falas de ti, se como dizes diluíste no amor pago o teu sofrimento enquanto alguém que eu bem conheço suspirava por ti? Não te incomoda que ainda suspire?
A “coragem para fazer triunfar esse amor” não teve o poder que outros detinham para o derrubar e se hoje continuo a querer consertar o que resta, faço-o por convicção que a culpa me é exterior, ao serem-me sonegados factos que apenas vou tornar públicos para que não se entenda que eu possa ser aquilo de que me acusas.
A ELA:
Desde logo quando li o que escreveste senti uma vontade louca de voltar a colocar nesta página a confissão plena do quanto te amo, como reconhecimento, por mim sentido, do amor com que ainda me presenteias. Contudo duvidei, voltei a duvidar após este post, que tenhas sido TU a responder. Afinal as tuas referências foram tão vagas que poderia alguém ter-se feito passar por TI.
Aquele meu antigo amigo inseparável pode muito bem ter planeado esta cilada à minha pessoa pois, como ele próprio se auto vangloria, era e será uma pessoa inteligente que com alguma perspicácia sabendo da nossa história compôs o argumento.
Por tudo isso apenas TE peço que se leres o que se segue TE não precipites a responder, poderá ser chocante para ti, mas garanto-te que vamos poder em breve falar em privado pois já sei de alguém que me vai conseguir o teu contacto.
Não há necessidade de TE voltares a expor, a não ser que o queiras fazer por alguma razão que me transcende. Sei agora que se o fizeres incluirás na tua resposta “aquele”sinal que não me deixará dúvidas.
CORAGEM PARA FAZER TRIUNFAR ESSE AMOR…
O Agosto e o Setembro daquele último ano de Colégio tinham voado, entre a ceifa do trigo e a recolha do milho consegui, por várias vezes, visitá-LA em Ansião, onde me deslocava na minha inseparável bicicleta, uma “pasteleira” de cor verde que o meu pai, com enorme dificuldade, me tinha comprado, logo no início do meu primeiro ano de Colégio, numa loja de bicicletas, pertença de dois irmãos, que existia contígua ao então Posto da GNR.
A minha vida era por essa altura uma enorme indefinição. Contrariando as parcas possibilidades económicas dos meus pais sobrepunha-se uma vontade conjunta, minha e deles, de que eu continuasse estudos. O meu irmão já se havia pronunciado e concordava que eu tirasse pelo menos o sétimo ano, tinha-se oferecido para ajudar nas despesas, retirando ao seu magro ordenado do momento algumas dezenas de escudos.
Contrastando com essa vontade enorme de continuar estudos grassava em mim um certo receio por uma inevitável estadia em Coimbra, onde uns parentes do meu pai se ofereceram para me encontrar estadia e onde tudo o resto me era desconhecido. Desconhecido para mim era ainda o que sucederia após esta separação, principalmente relativamente a ELA. Eu notava nos olhares de desaprovação com que o seu pai me presenteava, quando A procurava, que algo muito grave se iria passar. Era contudo demasiado jovem, teria quinze anos por essa altura, para poder imaginar que esse pai numa ânsia insaciável de proteger a sua filha de mim nos pudesse ter privado de pelo menos termos tentado compensar o nosso amor com um tão sonhado happy end.
Meses intermináveis se seguiram, durante os quais eu me deslocava todos os fins-de-semana entre Coimbra e Ansião numa cada vez mais ténue esperança de a encontrar ou que por vontade divina alguma carta sua tivesse chegado à casa de meus pais. Todas aquelas cartas que semana após semana lhe escrevia do meu quarto, numa residência da Avenida dos Combatentes, jamais tiveram resposta. Dias, semanas, meses e anos de sofrimento atroz se seguiram, DELA apenas restavam recordações. Ingrata a vida fez-me perder meu pai antes que este pudesse ver-me formado como ele tanto desejou e pelo que tanto lutou. A situação revolucionária, que o país atravessava nessa altura, abalou os negócios do meu irmão e nem ele conseguia mais suportar as despesas dos meus estudos. Forçado a sustentar-me, interrompi os meus estudos e procurei a companhia de minha mãe, agora sozinha, tendo-me empregado nessa altura na região.
Fiz de minha mãe minha confidente. Um dia enquanto repousava a minha cabeça no seu regaço e lhe confessava toda a minha mágoa por não mais A ter encontrado nem DELA ter recolhido qualquer notícia, ao ouvir a voz embargada da minha mãe e, após ter erguido a cabeça, ver uma lágrima deslizante diluir-se nas pregas do seu rosto, senti que a vida poderia ser a partir de então ainda mais cruel. Disse, volto já, e até que voltasse apenas o silêncio se fez sentir. Quando voltou trazia nas mãos alguns envelopes amarrotados e amarelados com aspecto de terem sobrevivido a largos anos abandonados talvez no fundo de uma daquelas arcas de madeira onde também se guardavam as mantas retalheiras que os cobertores comprados no leilão das feiras de final de Verão haviam destronado. Estendeu-os na minha direcção, ao tocar-lhes simultaneamente reconheci a letra DELA, uma lancinante dor trespassou o meu coração e pensei que iria morrer, não conseguia falar nem tão pouco mover-me. Continuei a ouvir a voz arrastada da minha mãe e não conseguia distinguir se seria eu que estava realmente a morrer ou se a comoção lhe prendia a voz. Pediu-me perdão em seu nome e do meu falecido pai e contou-me que tinha sido com lágrimas nos olhos que ambos tinham escondido estas cartas quando uma após outra iam chegando. Disse ainda que apenas o tinham feito para me protegerem das ameaças do pai DELA, feitas num dia em que este desceu à nossa aldeia e os informou que iria levar a filha para bem longe – um colégio interno de uma irmandade feminina numa cidade nortenha o que confirmei pelas suas cartas – e que ou eles conseguiam impedir que o correio vindo DELA me chegasse ou então ele moveria as suas influências junto da polícia secreta da época para me armar uma cilada que me levaria à prisão de onde poderia até nunca mais sair, como ameaçou.
Quando, após o 25 de Abril de 74, a PIDE foi desmantelada ainda pensaram em me desvendar este segredo, mas concluíram que, por terem passado quase oito anos, o assunto pudesse estar encerrado. Reconheci nas suas palavras o quanto me queria e o quanto teria sofrido para me proteger e num impulso consegui vencer o torpor que me subjugava e abracei-a afastando da sua mente qualquer dúvida que tivesse de um ressentimento da minha parte. Mas estava triste, acabrunhado com o peso desta revelação ausentei-me para o meu quarto, então já melhorado com algumas obras que tínhamos feito, o mesmo onde anos atrás havia escrito aquele bilhete de que já vos falei. Li, reli e continuarei a ler aqueles pedidos angustiantes de notícias minhas, gritos que viajam no tempo e coabitam agora na minha essência como se todas aquelas cartas se tivessem esvaziado para o meu íntimo.
No dia seguinte viajei para aquela morada do remetente na esperança de a encontrar, todas as irmãs que conheci se recordavam dela, mas nada mais além disso.
Do que foram todos estes anos até à data podereis agora concluir pois neste momento sabeis tanto quanto eu. Eu estou perto de saber mais, graças a vós.
Obrigado.
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